No início de 2011 fomos convidadas a realizar um projeto para a série Duplas, da Galeria do Lago, no Museu da República do Rio de Janeiro, que teve como curadora Isabel de Sanson Portella. A Galeria do Lago – espaço de arte contemporânea anexo ao museu e que tem a missão de preservar, investigar e divulgar os fatos vinculados à história da República Brasileira – propõe-se a apresentar exposições que estabeleçam o diálogo entre o Palácio do Catete e o Jardim da República. Como já vínhamos trabalhando juntas em alguns projetos, topamos o desafio.
A partir desse momento, iniciamos uma vivência de um ano no local, incluindo os jardins, o arquivo histórico e o museu. Entre fotos de garden parties de Nair de Teffé e paisagens do parque em diversas estações, encontramos um recorte de jornal da época em que Nilo Peçanha aparece sentado em um dos bancos do jardim com dois cães, sem qualquer referência, registrada no arquivo como tendo sido publicada entre 1909/10.
Todo o tema do projeto Banco de Tempo, que resultou na exposição homônima apresentada entre janeiro e abril de 2012, no livro Banco de Tempo lançado em 2015, e na pesquisa artística das artistas, teve origem nessa imagem. Tudo o que precisávamos saber estava nessa fotografia: o século que a separava do tempo presente, o uso da fotografia, o ângulo frontal com o banco de praça ao centro, a flora brasileira, o bigode presidencial e os cães galgos. Focalizamos dois dos elementos principais que permearam o projeto: o banco – mobiliário urbano ao mesmo tempo específico e universal –, como símbolo de repouso e lugar de afetos compartilhados, e uma mala antiga, como símbolo de deslocamento e viagens ora vividas, ora imaginadas.
Estes elementos foram trabalhados para a exposição Banco de Tempo em diversas ações efêmeras registradas em vídeo, em uma intervenção nos bancos do jardim, na criação de um poema constituído de contribuições dos frequentadores do parque, e em fotografias realizadas ao redor do mundo, um inventário de bancos global. Essa coleção com mais de 500 imagens pode ser agrupada de diferentes formas: por temas recorrentes, escalas cromáticas e justaposições conceituais.
Em todos os trabalhos estão presentes reflexões sobre espaços de fluxos, viagens e desejos ligados ao tema do tempo e sua relação com a paisagem, com a imagem e a palavra.
Early in 2011 we were invited to carry out a project as part of the Duplas series, curated by Isabel de Sanson Portella, at Galeria do Lago, part of Rio de Janeiro’s Museum of the Republic, a public institution devoted to the history of the Brazilian republic. Galeria do Lago is a place for contemporary art located next to the lake and to the museum. Its goal is to preserve, research and unveil facts related to the history of the Brazilian Republic, with exhibitions that establish a dialogue between Catete Palace and its adjoining gardens, the Republic Garden.
To be successful in our undertaking we began a one-year residency on site, including the gardens, the historic archives and the museum. Amidst pictures of garden parties thrown by first lady Nair de Teffé and sceneries of the park in different seasons of the year, we found a newspaper clipping of that time showing President Nilo Peçanha sitting on one of the garden benches holding two dogs. This is a unique photo, without further reference, except that of being taken somewhere between 1909 and 1910.
Inspired by this image, we developed the "Benches of Time" project which resulted in the exhibition by the same name presented between January and May 2012, and a artist's publication by the same name. Inspired by this image, we focused on two of the main elements of the project – the bench – an urban piece of furniture at the same time specific and universal – as a symbol of rest and a place of shared affections, and an old suitcase, as a symbol of displacements and trips either actually taken or imagined.
These elements were recorded in several performances on video, in a text-based intervention on the garden benches, and in a photographic collection of benches from the whole world. This last piece of benches has become a focus obsessively shared by the two of us. It entails over 500 images that can be grouped in different forms through recurring themes, chromatic scales or conceptual juxtapositions.
In all the works one can find reflections on spaces of flows, travel and desires related to the notion of time andits relationship to the landscape, the image and the word.