Category: patricia gouvêa

Em Chiang Mai, um desejo lançado ao futuro

Muito antes de realizarmos o projeto Banco de Tempo e virarmos parceiras de pesquisas artísticas, eu e Isabel fizemos boas viagens juntas. Às vezes elas tinham um motivo “curativo”como esta viagem juntas à Tailândia, em 2007. Acabávamos de sair de relacionamentos tensos, com pessoas emocionalmente abusivas. Viajar para mim – e creio que para Isabel também – nunca foram fugas e sim transmutações.

No fim de 2007, voei para Cingapura ao encontro de Isabel, que lá passou alguns anos lecionando numa universidade. Era minha primeira vez no Oriente. Sem planos, entrei no avião. De Cingapura fui sozinha ao Cambodja. E com Isabel conheci Pranang Ao, Bangkok e Chiang Mai. Nesta última cidade visitamos a The Land Foundation, projeto de engajamento social do artista Rirkrit Tiravenija que posteriormente agregou outros nomes. Passamos ali uma tarde.

Nunca editei as fotografias e vídeos que fiz nesta viagem. Hoje revisitei uma pasta no computador que aguarda alguma atenção, mas que insisto em esquecer. Algumas fases da vida são mais dadas à falta de imagens.

Esta fotografia saltou e se postou à minha frente. Lá estava quem sabe o nosso primeiro #bancodetempo, 10 anos atrás, lançado como um desejo para o futuro. Hoje, com nossos pequenos filhos Theo e Diana, não temos mais como sair por aí como ciganas na estrada. Tampouco sentar em bancos e contemplar tem sido uma prática em nossas vidas. Mas a amizade continua forte, apesar da distância oceânica. E na cabeça, muitos planos que podem não caber na medida desta vida apenas.

 

 

 

Em Miami

Dos bancos que já encontrei por aí, estes do PAMM (Pérez Art Museum Miami) são sem dúvida dos mais divinos!

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Mãe Preta, nosso novo projeto

No dia 23 de julho foi inaugurada a coletiva Crossover, na Galeria Monique Paton, Centro, RJ. Eu e Isabel Löfgren, em nova parceria, desenvolvemos o trabalho inédito Mãe Preta, uma pesquisa que nos levou a mergulhar profundamente nos últimos 6 meses no tema da escravidão no Brasil, passado tenebroso e ainda bastante desconhecido para a maioria dos brasileiros, marcado por separações, humilhações e sofrimentos físicos, morais e espirituais.

“Mãe Preta” inclui três trabalhos em fotografia e video, mostrados dentro e fora da galeria. A série foi baseada no encontro das artistas com a pintura de uma figura de uma escrava carregando seu bebê nas costas na porta da galeria, local de uma de suas intervenções. “Mãe Preta” era o nome dado às escravas cujo trabalho era ser amas-de-leite e cuidadoras dos filhos dos senhores brancos na época da escravidão, em detrimento aos cuidados dos seus próprios filhos.

Inspiradas por nossa maternidade recente e já tendo trabalhado com imagens históricas, reinterpretamos a pintura desta mãe escrava – esta já sendo uma cópia de uma litogravura do pintor alemão Rugendas (conhecido por retratar a vida cotidiana do Rio de Janeiro em meados do século 19) – com meios contemporâneos. Na série, retratamos um modelo masculino e simulamos (com a ajuda da estilista Margo Margot) as vestimentas e a pose da escrava como forma de pôr em questão a representação da figura materna na época da escravidão em relação a questões atuais sobre etnia, sexualidade e gênero.

 

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